Tiago Baptista
Atrás do pensamento
Atrás do pensamento é o título da próxima exposição individual de Tiago Baptista na galeria 3+1 Arte Contemporânea.
A pintura de Tiago Baptista, (Leiria 1986), num primeiro vislumbre, é como uma sequência de paisagens que nos confronta com imagens que detêm uma forte componente cinematográfica, no sentido em que cada pintura é como um momento de uma narrativa que se encontra num espectro de outras narrativas. Esta exposição intitulada “Atrás do pensamento” convoca, de um modo paradoxal, esse movimento que pode ser uma perseguição à reflexão e ao pensamento enquanto processo subjectivo ou, simultâneamente, uma aparente absurdidade perante a consciência do ser que se pensa a si mesmo, mas escolhe um outro caminho para se libertar da palavra que, sob a égide do entendimento, o limita perante a objectividade e o valor hipotético da verdade.
O título da exposição foi resgatado a uma frase da escritora Clarice Lispector, do seu livro “Água Viva”, e que diz o seguinte: “Estou atrás do que fica atrás do pensamento”. Esta frase introduz no trabalho do artista um outro vínculo, mais forte do que a cinematografia, a literatura e as imagens que provêm da sua leitura. Tiago Baptista é então um leitor desavindo, desabrido, e desafiante na forma como constrói as pinturas no processo da sua composição. E é desafiante porque para além das referencias literárias ou cinematográficas, emergem sobre os diferentes planos da tela actos e modos de fazer que somente a pintura pode transformar em imagem, mesmo que a sua significação seja dificilmente adequada a uma interpretação imediata.
Objectos diversos, figuras humanas e outras antropomórficas, são sujeitas a uma transmutação que gera um movimento distópico e assíncrono no enquadramento da composição, como se estivéssemos perante dimensões diversas da imaginação e da memória, esta interrogada e trespassada por símbolos, paisagens, construções ou ruínas que reconhecemos num vislumbre, mas que parecem perder o sentido e a verosimilhança com a sua existência e significação real. É a pintura, enquanto totalidade que nos recorda, pelo enquadramento, tudo o que ficou de fora, tudo aquilo que nos coloca no contracampo da imagem que vemos.
Cabe-nos a nós o derradeiro, mas também, o primeiro movimento para inverter o sentido do pensamento e mergulharmos no campo discursivo da sua pintura. Observar todos os elementos que a sua pintura constrói, mesmo aqueles que nos parecem acidentais. Sejam estes geométricos, gestuais ou desproporcionados. Mesmo antes de os querermos entender.
João Silverio, 12.2017
19.01.18 – 10.03.18
Inauguração 19.01.18 19h – 22h